sábado, 30 de junho de 2007

Veja, o mapa do Rio Grande do Sul tem o feitio de um garrafão de vinho emborcado para o oceano Atlântico. Vem daí o Dialeto de Pelotas.
Quem presta atenção, percebe que o mapa do Rio Grande do Sul é parecido com um garrafão de vinho. Ele está emborcado para o oceano Atlântico. O gargalo desemboca na cidade de Rio Grande e a rolha - aquela que, impossível de ser retirada, a gente empurra pra dentro - é Pelotas, a Princesa do Sul.
É por ali que escoa toda produção que os gaúchos mandam para os outros lados do mundo; é por ali que passa tudo que vem pelo oceano de todas as partes da terra. Como antes, muito mais do que agora, era mais fácil lidar com o mundo por via marítima - posto que as rodovias nacionais ainda não tinham sido inventadas por Mário Andreazza - os pelotenses mandavam seus filhos e herdeiros conhecer a vida lá fora.
E foi assim que a história dos outros continentes chegou ao Brasil, passando obrigatoriamente por Pelotas - a rolha que primeiro degustava os sabores da arte, cultura, saberes, usos e costumes, para só depois e então repassá-los ao Brasil por inteiro.
Chegavam, pois, a Pelotas os jeitos e trejeitos de todos os cantos, dos quatro ventos. Com todos os sotaques, de todas as maneiras. Vai daí que a fama se justifica: Pelotas, bonita, fina, poliglota... Pelotas, Atenas Rio-Grandense!
É dessa ligação-direta com o outro mundo que surge o que se pode chamar chamar de Dialeto de Pelotas - um idioma coberto de galicismos, anglicismos, germanismos e modismos naturais decorrentes até, muito mais da influência lusitana, do que da bossa-nova, ou do jaz.
Então, se alguém disser que vai à patente para ir-aos-pés, você pode estar certo de que se trata de um pelotense dirigindo-se à toalete, ou ao popular sanitário, para fazer suas necessidades fisiológicas. Cá pra nós, é bem mais simpático do que ser tão explícito ao ponto de dizer: "Peraí, vou fazer cocô"! E quase tão enigmático quanto escutar-se uma baiana pedindo licença para ir, logo ali atrás da esquina, "fazer os meus mistérios".
Mas, nem só de estrangeirismos, vive o idioma pelotário. Ele se sutenta também nos modismos de cada era bem vivida pelos citadinos dessa velha metrópole do extremo brasileiro. O jeito próprio de ver e dizer as coisas, à medida que o tempo foi passando, criou o Dialeto de Pelotas - um linguajar que não dá bola para o que os outros pensam. É aqui que a gente fala disso. É aqui que a gente se entende. Mesmo quando diz que, antes de calçar os sapatos, vai pegar os carpins no bidê.