domingo, 1 de julho de 2007

Lustra o chão com parquetina.
Usa a enceradeira em piso de tacos.
É um berdamerda.
É um coitado, um João-Ninguém.
O caixeiro da venda trouxe farinha.
O mensageiro fez o atendimento.
Fazia parigata no banco da praça.
Brincadeira de empurra-empurra,
Tomou Tatuzinho.
Cometeu suicídio por envenenamento.
Foi multado pelo pauzinho.
Multado pelo guarda de trânsito.
O brigadiano estava de plantão.
O policial militar estava de serviço.
Comigo não tem parangolé.
Não tem conversa.
A vida não é sopa.
A vida está difícil.
Passa a borracha.
Esquece.
É um bocó, um brederodes.
Um tolo, um abobado.
Está cheio de pilas.
Está rico.
Ela vai na couve, é uma bruaca.
Mulher volúvel. Dadivosa.
É que nem drops Gardano.
Todo mundo gosta e quer.
Está fungando no cangote.
Investigando.
É baleiro de Taco de Ouro.
Comedor, garanhão.
Ficou surdo que nem uma porta.
Não deu ouvidos a ninguém.
A peronha entrou zunindo.
Gol de petardo. A bola entrou em grande velocidade.
Vou te internar no Patronato.
Aviso paterno a aluno relapso ameaçando matriculá-lo em regime de internato rural.
Ela é cambota.
Tem as pernas tortas, arqueadas.



Usar o Dialeto de Pelotas é também rebuscar o passado. É resgatar a gíria da época rococó. É dizer e escrever coisas mais ou menos assim:
Quatro... Apresento o teu retrato.
Brincadeirinha com caixa de fósforos Fiat Lux.
Azar do Waldemar!
Tô nem aí!
É carnaval, vou cair no molho.
Vou brincar no carnaval.
Erra de gato quarenta e quatro!
Rogando praga.
Foi à festa todo becado.
Enrolado pra presente. Vestindo terno completo.
Balearam o Doca!
Pegaram alguém no contrapé.
Acende o fogão com Magi-Click.
Faz tudo com rapidez.
Roda bolsinha.
É de programa.
Logro pra quem é bobo.
Brincadeirinha de 1º de abril.
Faz tudo na vai da valsa.
Descuidado, sem precisão.

Para ficar tranchan, vestia carpins combinando com a gravata.
Para ficar elegante, usava meias combinando com a gravata.
Êta governo chola!
Que governo ruim.
Foi ao quartibanho. Foi à patente.
Foi ao sanitário, ao WC.

Era petequeiro de cinema.

Bolinava as pessoas da platéia durante as sessões de cinema.
Ele é seco no bodoque.
Ele é bom no que faz, um especialista.
Pagou a luz no birô da Usina.
Quitou a conta de energia elétrica no balcão da Companhia de Eletricidade.

Linda, causou um frisson quando chegou.
Linda, ela fez sucesso ao chegar.
De penhoar e chinelas de pompom.
Sensualidade delicada e casual.
Desencascorrou os calcanhares com pedra pôme.
Foi à pedicure.
Está na lona, em débâcle.
Faliu.

sábado, 30 de junho de 2007

Veja, o mapa do Rio Grande do Sul tem o feitio de um garrafão de vinho emborcado para o oceano Atlântico. Vem daí o Dialeto de Pelotas.
Quem presta atenção, percebe que o mapa do Rio Grande do Sul é parecido com um garrafão de vinho. Ele está emborcado para o oceano Atlântico. O gargalo desemboca na cidade de Rio Grande e a rolha - aquela que, impossível de ser retirada, a gente empurra pra dentro - é Pelotas, a Princesa do Sul.
É por ali que escoa toda produção que os gaúchos mandam para os outros lados do mundo; é por ali que passa tudo que vem pelo oceano de todas as partes da terra. Como antes, muito mais do que agora, era mais fácil lidar com o mundo por via marítima - posto que as rodovias nacionais ainda não tinham sido inventadas por Mário Andreazza - os pelotenses mandavam seus filhos e herdeiros conhecer a vida lá fora.
E foi assim que a história dos outros continentes chegou ao Brasil, passando obrigatoriamente por Pelotas - a rolha que primeiro degustava os sabores da arte, cultura, saberes, usos e costumes, para só depois e então repassá-los ao Brasil por inteiro.
Chegavam, pois, a Pelotas os jeitos e trejeitos de todos os cantos, dos quatro ventos. Com todos os sotaques, de todas as maneiras. Vai daí que a fama se justifica: Pelotas, bonita, fina, poliglota... Pelotas, Atenas Rio-Grandense!
É dessa ligação-direta com o outro mundo que surge o que se pode chamar chamar de Dialeto de Pelotas - um idioma coberto de galicismos, anglicismos, germanismos e modismos naturais decorrentes até, muito mais da influência lusitana, do que da bossa-nova, ou do jaz.
Então, se alguém disser que vai à patente para ir-aos-pés, você pode estar certo de que se trata de um pelotense dirigindo-se à toalete, ou ao popular sanitário, para fazer suas necessidades fisiológicas. Cá pra nós, é bem mais simpático do que ser tão explícito ao ponto de dizer: "Peraí, vou fazer cocô"! E quase tão enigmático quanto escutar-se uma baiana pedindo licença para ir, logo ali atrás da esquina, "fazer os meus mistérios".
Mas, nem só de estrangeirismos, vive o idioma pelotário. Ele se sutenta também nos modismos de cada era bem vivida pelos citadinos dessa velha metrópole do extremo brasileiro. O jeito próprio de ver e dizer as coisas, à medida que o tempo foi passando, criou o Dialeto de Pelotas - um linguajar que não dá bola para o que os outros pensam. É aqui que a gente fala disso. É aqui que a gente se entende. Mesmo quando diz que, antes de calçar os sapatos, vai pegar os carpins no bidê.