Quem presta atenção, percebe que o mapa do Rio Grande do Sul é parecido com um garrafão de vinho. Ele está emborcado para o oceano Atlântico. O gargalo desemboca na cidade de Rio Grande e a rolha - aquela que, impossível de ser retirada, a gente empurra pra dentro - é Pelotas, a Princesa do Sul.
É por ali que escoa toda produção que os gaúchos mandam para os outros lados do mundo; é por ali que passa tudo que vem pelo oceano de todas as partes da terra. Como antes, muito mais do que agora, era mais fácil lidar com o mundo por via marítima - posto que as rodovias nacionais ainda não tinham sido inventadas por Mário Andreazza - os pelotenses mandavam seus filhos e herdeiros conhecer a vida lá fora.
E foi assim que a história dos outros continentes chegou ao Brasil, passando obrigatoriamente por Pelotas - a rolha que primeiro degustava os sabores da arte, cultura, saberes, usos e costumes, para só depois e então repassá-los ao Brasil por inteiro.
Chegavam, pois, a Pelotas os jeitos e trejeitos de todos os cantos, dos quatro ventos. Com todos os sotaques, de todas as maneiras. Vai daí que a fama se justifica: Pelotas, bonita, fina, poliglota... Pelotas, Atenas Rio-Grandense!
É dessa ligação-direta com o outro mundo que surge o que se pode chamar chamar de Dialeto de Pelotas - um idioma coberto de galicismos, anglicismos, germanismos e modismos naturais decorrentes até, muito mais da influência lusitana, do que da bossa-nova, ou do jaz.
Então, se alguém disser que vai à patente para ir-aos-pés, você pode estar certo de que se trata de um pelotense dirigindo-se à toalete, ou ao popular sanitário, para fazer suas necessidades fisiológicas. Cá pra nós, é bem mais simpático do que ser tão explícito ao ponto de dizer: "Peraí, vou fazer cocô"! E quase tão enigmático quanto escutar-se uma baiana pedindo licença para ir, logo ali atrás da esquina, "fazer os meus mistérios".
Mas, nem só de estrangeirismos, vive o idioma pelotário. Ele se sutenta também nos modismos de cada era bem vivida pelos citadinos dessa velha metrópole do extremo brasileiro. O jeito próprio de ver e dizer as coisas, à medida que o tempo foi passando, criou o Dialeto de Pelotas - um linguajar que não dá bola para o que os outros pensam. É aqui que a gente fala disso. É aqui que a gente se entende. Mesmo quando diz que, antes de calçar os sapatos, vai pegar os carpins no bidê.
2 comentários:
sergio siqueira grande escritor!!! meu caro não me conheces mas eu ja li alguns de seus livros e fiquei maravilhado com sua sagacidade. infelizmente o livro"dentro do aquario" me foi roubado. como posso adquiri-lo? meu email: junioravendano@hotmail.com
nao me deixe sem o retorno. aguardo seu contato. desculpe mas nao sabia como entrar em contato e usei seu blog. abraço.
quando escutando a RU ouvi o nome do meu amigo Serginho,fiquei curioso para saber como estás,eu moro em Ponta Grossa estou muito bem, mas com muitas saudades deste grande amigo de infancia.abraços Hamilton Ferreira
Postar um comentário